terça-feira, 5 de abril de 2011

MEMORIAL FEIRA HIPPIE

   MEMORIAL FEIRA HIPPIE DE BELO HORIZONTE


Em meados dos anos 60 o mundo recebia as notícias vindas das frentes de batalhas na guerra do Vietnã. Indignados com a violência da qual se tinha noticia através da imprensa, jovens americanos e até mesmo pessoas de mais idade, começavam um movimento que daria ao mundo um novo rumo, uma nova direção, um novo conceito político e uma nova visão social: o movimento hippie.

Esse movimento se alastrou rapidamente por todo o mundo. E no Brasil não podia ter sido diferente. As notícias chegavam por meio das revistas O cruzeiro e Manchete, os jornais, rádios e TVs, muito embora censurados davam a exata dimensão do problema. O movimento hippie no Brasil ganhava as ruas, tomava corpo e traçava novos caminhos. A ditadura militar submetia o povo brasileiro a um regime autoritário, que suprimia todos os resquícios do Estado de direito com a adoção do ato institucional nº5 em 13 dezembro 1968.

Em meio a esse tempo de conflito pelo qual passava o povo brasileiro, a coragem e a bravura dos nossos jovens se evidenciavam por todo o país, através dos movimentos estudantis, operários e hippies. Estes últimos adotaram Minas Gerais como cede principal do movimento, o que fez do estado uma referência para todo o Brasil. Nesse tempo, um pequeno grupo de pessoas entre hippies, artesãos, artistas plásticos e músicos, que aderiram à filosofia da paz e amor, buscavam uma alternativa de vida baseada na liberdade, e, sobretudo, na valorização das individualidades das idéias. O grupo era frequentemente encontrado nas ruas, praças e avenidas da capital mineira, mostrando suas caras, seus visuais coloridos e suas habilidades para lidar com as artes.

Em 1969, o grupo ficou ainda maior e mais consistente, a ponto de chamar a atenção das pessoas, não somente por suas cores, mas principalmente por seus comportamentos, pela variedade e pela qualidade dos objetos que produziam.

 Ainda que de maneira informal, nascia na Praça da Liberdade a primeira feira hippie do Brasil, o que era muito sugestivo para um movimento que pregava a liberdade. O sucesso foi absoluto, atraiu críticos de arte, mexeu com a sensibilidade de pessoas como Yara Tupinambá, Maristela Tristão e outros aficionados pelas manifestações culturais. Ressaltamos que Maristela Tristão, era uma mulher de visão, enxergou a oportunidade de transformar aquele movimento em um grande acontecimento mundial.

No ano de 1973 o então prefeito de Belo Horizonte Sr. Osvaldo Pieruccette assinou o decreto de nº 2.409 de 05 de setembro de 1973, que criou e institucionalizou a 1º feira de arte e artesanato de BH. E consequentemente do Brasil. A década era de muita dificuldade: os militares estavam no poder; o ato institucional nº 5 ainda vigorava; a repressão aos direitos individuais e a censura a imprensa ainda faziam parte da ordem do dia. As manifestações populares de trabalhadores da construção civil e estudantes estampavam as capas das revistas e as primeiras páginas dos jornais de todo o país. No entanto, o movimento hippie crescia e se consolidava sem fazer barulho, porém vivendo ao que se propunha.
A Feira era uma realidade e já estava confirmada como um grande potencial de atração turística da cidade. No final da década de 70, o governo do então general João Batista de Figueiredo sinalizava com a possibilidade de promover a abertura política no Brasil, abrindo as portas do país e permitindo a volta das pessoas que estavam no exílio. Ainda que desconfiados, nós os brasileiros nos entusiasmávamos com a idéia de que finalmente teríamos a oportunidade de construir uma nação para o nosso povo. Nos anos 80 as palavras de ordem eram as diretas já, Tancredo Neves era eleito presidente da república por um voto indireto, faleceu com uma infecção que o Brasil tomava conhecimento pela primeira vez, o seu vice José Sarney toma posse em seu lugar. Uma comissão escreve a nova carta constituinte em 88, os bois sumiram dos pastos, era decretado o congelamento dos preços, tanto dos produtos como dos serviços. Nos anos 90 vieram os governos democráticos, confiscaram as economias populares, entraram em sena os caras pintadas, o Brasil conhecia o primeiro impeachment de um  presidente pós ditadura, em nome da democracia. A liberdade se instalava no país.

Em 1991, a Feira Hippie alcançou a maioridade. O país finalmente era democrático, mas ainda havia pessoas que insistiam em deixar dentro de si a famigerada ditadura. Por conta disso, a Feira Hippie saiu da praça da liberdade e se instalou em um novo endereço: a Avenida Afonso Pena.  Muitos boatos, conspirações e inúmeras ilegalidades reacenderam o espírito de luta dessa categoria de artesãos, que se esforçavam para continuar a oferecer o melhor do artesanato não só aos belo-horizontinos, mas também às muitas pessoas que vinham de todas as partes do Brasil e do mundo. Um novo regulamento, e outras feiras foram incorporadas à Feira Hippie, que mudou de nome; passou a se chamar Feira de Arte, Artesanato e Produtores de Variedades da Avenida Afonso Pena, ganhando assim a fama de ser a maior feira de arte e artesanato a céu aberto do mundo. 3.200 expositores, mais de 20.000 empregos diretos e indiretos, cerca de 80 a 130 mil visitantes em todos os domingos.

Hoje a Feira é uma senhora de 41 anos de idade. Reduzida a 2300 expositores, mas sustenta o mesmo numero de visitantes. Sobreviveu ao período negro da história brasileira e passou por diversos tipos de comportamentos de governos municipais. Garantiu o sustento de milhares de famílias e educou seus filhos em universidades. O que era apenas um sonho de liberdade tornou-se uma incontestável realidade, bem fundamentada nos princípios da ética, dos bons costumes e do bom comportamento social. Apesar dos inúmeros problemas que ainda enfrenta, seja por parte do poder público ou por suas lideranças sindicais, ela ainda é capaz de promover o lazer, a descontração e o encontro dos belo-horizontinos com as pessoas que visitam a cidade, oriundas de todas as partes do Brasil e do mundo. Por causa da ausência de mar e de grandes eventos culturais, a feira de artesanato de Belo Horizonte é hoje considerada a praia dos mineiros, o maior acontecimento popular permanente do estado de Minas Gerais.
Em breve será reconhecida como; PATRIMONIO IMATERIAL DA CIDADE DE BELO HORIZONTE.       

                                                                 Por    Pr. Apolo Costa
                                                                Presidente da FEMEART

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